E se o verdadeiro poder da sua equipe só aparecer quando o líder estiver fora do jogo?
Por Lilian Cruz, para revista HSM Management
Ao longo da sua experiência como executivo, você já deve ter ouvido falar sobre histórias de CEOs que exigiam que o uso do elevador fosse exclusivo para que eles ou elas subissem diretamente para o andar da sua sala e assim, não tivessem que interagir com ninguém. Aqueles que trabalham dia, noite, finais de semana e querem controlar e tomar todas as decisões. Resultado: seus melhores colaboradores decidem seguir por outro caminho, pois se sentem desempoderados. E estes líderes acabam ficando com mais pessoas que não estão prontas (ou dispostas) a desafiá-los. Ao tentarem ser grandiosos, acabam tomando decisões prejudiciais a eles mesmos, suas equipes e à organização.
O ego molda nossa identidade desde a infância, evoluindo conforme navegamos por sucessos, fracassos e relacionamentos. A psicologia mostra que o ego geralmente se constrói de experiências iniciais da vida, criando uma estrutura para como vemos a nós mesmos e aos outros. E nosso ego é como um alvo: quanto maior, mais vulnerável se torna.
Ou seja: um ego inflado facilita que outros tirem proveito de nós, pois, ao buscar validação, ficamos suscetíveis à manipulação. De um alvo, ele se converte então em um mecanismo de defesa, já que abandoná-lo pode parecer perder o controle ou admitir vulnerabilidade, e ele se torna uma barreira, bloqueando o crescimento pessoal e a capacidade de liderar efetivamente.
Talvez você tenha assistido ao documentário “A Noite que Mudou o Pop”. Ele ilustra perfeitamente como pessoas públicas, grandes estrelas da música e líderes corporativos compartilham o mesmo palco. Quincy Jones teve uma ideia simples, mas muito importante: pediu para pendurar uma placa na entrada do estúdio que dizia “Deixe o ego aqui na entrada”. E parece que funcionou! Ao longo da filmagem, todos os envolvidos pareciam estar bem despidos do seu senso de superioridade habitual, a ponto de ficarem tímidos, “como se fosse o primeiro dia do jardim de infância”, de acordo com Lionel Richie. Muitos deles se conheceram lá e até deram autógrafos uns aos outros. Um grande exemplo de humildade e colaboração desinteressada pessoalmente, mas movida coletivamente pelo mesmo propósito.
Equipes de alto desempenho prosperam quando os líderes gerenciam seus egos, focando em estilos de gestão integrativos que fomentam colaboração e confiança. Sistemas de recompensa que priorizam o esforço da equipe em vez de elogios individuais impulsionam o sucesso sustentável. Gestores que mudam do controle para o empoderamento desbloqueiam a inteligência coletiva de suas equipes, criando um ambiente de aprendizado e inovação contínuos.
Em seu livro, “Potencial Oculto”, Adam Grant traz uma visão única: no basquete, quando o jogador estrela é afastado, o time geralmente tem um desempenho melhor coletivamente. Por quê? Porque a ausência de ego permite que outros se apresentem e cresçam, revelando um potencial inexplorado. Assim como um técnico precisa lidar com atletas lesionados, a falta de uma estrela não deve ser vista como uma perda, mas como uma chance de explorar novas estratégias e habilidades, reforçando a resiliência e adaptabilidade da sua equipe.
Esse fenômeno não é apenas relevante na música ou no esporte, mas também em qualquer organização que busca melhores resultados em equipes de alta performance. Quando os grandes nomes estão fora de cena, é possível perceber o potencial escondido que reside nas camadas mais profundas do time. “Sem os craques, os times precisavam voltar à estaca zero e buscar novos caminhos para o sucesso. Eles trocavam os jogadores de posição para permitir que todos brilhassem e bolavam novas jogadas para valorizar os pontos fortes de cada um.”, segundo Grant.
O que aprendemos com isso? A chave para líderes e gestores é criar um ambiente que incentive o crescimento contínuo e o desenvolvimento do talento em todos os níveis. Quando todos se sentirem valorizados e apoiados para assumir riscos e inovar, sem depender exclusivamente de figuras de destaque, o grupo desenvolverá a capacidade de se unir, crescer e enfrentar desafios coletivamente!