Será que é possível conseguir equilibrar o curto prazo e o longo prazo ao mesmo tempo? Será que é possível ser uma organização ambidestra?
A 6a temporada do podcast Ambidestra está no ar e nessa temporada trazemos cases inspiradores de organizações que estão colocando a ambidestria em prática, ou seja, que conseguem cuidar da operação do negócio atual e da inovação, ao mesmo tempo.
Para abrir essa temporada convidamos Erika de Godoy, Head de inovação & Foresight da Natura, para bater um papo sobre o pilar de Gestão e Cultura dentro de uma organização ambidestra. Trazemos nesse artigo um resumo dessa conversa cheia de conteúdos.
Negócios e criatividade podem trabalhar juntos para proporcionar melhores experiências
Ao começar a falar de sua jornada profissional, Erika conta que teve, bem cedo, uma experiência no Unibanco onde entendeu que inovação também era possível ser vista em processos do dia a dia, desmistificando a idéia que inovar era somente para gerar ideias mirabolantes de produtos ou serviços. A inovação portanto também é parte da cultura de uma empresa.
Assim que entrou na Natura, ela sentiu que ali também era uma organização que presava muito pela cultura de inovação.
“Sempre digo para quem entra que aqui nós pedimos desculpas, mas não licença. O ambiente aqui é de inovação”.
Perguntamos quais são os principais desafios encontrados na jornada da Natura para ter uma ambidestria fluída na organização e, em relação a isso, Erika pontua 3 questões:
- A importância de entender que nem todas as áreas ou iniciativas tem apetite ao risco para inovar. É preciso definir onde a organização quer arriscar e inovar e onde não.
- Inovações devem ir para o mercado, e merecem um grande cuidado no processo de “go-to-market” (lançamento pro mercado). O valor da inovação está em trazê-la para dentro do negócio atual e colocá-la na rua e não ficar somente em experimentos internos ou cases inexpressivos.
- E para quem quer incentivar a inovação internamente outro desafio é ser um grande tradutor, pois existem palavras do bingo corporativo e da inovação que podem gerar distanciamento das áreas de negócio. É preciso falar a mesma língua para tornar a inovação acessível a todos.
Qual é o perfil do profissional de inovação?
Durante o papo, falamos de algumas características e atitudes que são importantes para o profissional de inovação. Trouxemos pontos como a coragem e criatividade, que são essenciais, e a Erika reforçou a resiliência como um pilar bastante relevante:
“A inovação nunca vai acontecer fácil. Você pode ter coragem e ser apaixonado por um projeto, mas no caminho da inovação você vai ouvir vários nãos. O não sempre comunica alguma coisa e é preciso olhar para esse não com o olhar do copo meio cheio. Nisso, entra outro ponto que é a curiosidade para entender os motivos desses ‘nãos’ e rever seus posicionamentos, tendo um termômetro rápido para saber se você está teimando em um caminho ou se existem outras maneiras mais eficazes de fazer. Há uma dualidade dentro da inovação: tem que ter ideias mas ao mesmo tempo ter a capacidade de concretizá-las”.
Erika acrescenta a importância em “viver o mundo” e estar por dentro do que está acontecendo fora da organização também, evitando focar tanto na empresa e processos deixando de entender a relevância das inovações da empresa para o mundo.
A metodologia agile, a inovação e o caos
“O olhar para a agilidade nasce pela própria contradição que é o processo de inovação”.
Erika nos explica que, dentro da Natura, foram criados microespecialistas onde cada um possuía seus processos e inovações. O lado positivo é que isso diminuía o risco mas, ao mesmo tempo, fazia perder a visão do todo. Por exemplo, se o microespecialista de embalagem traz uma solução para essa frente mas não se comunica com o responsável pelo produto, a versão final pode não funcionar:
“Os times estavam fragmentados e sem visão sistêmica e daí nasceu o olhar para o ágil. Não era necessário um novo processo de inovação e sim um novo jeito de se organizar com as ferramentas já utilizadas”.
O princípio da agilidade é pilotar uma iniciativa em um ambiente complexo onde muitas vezes é colocando em projeto especiais adjacentes ao negócio. Na Natura, eles implementaram a metodologia no core do negócio. Então mudaram a visão de microespecialistas que atuavam por pedaços do processo para um grupo multidisciplinar olhando as entregas como um todo.
O resultado foi um time aberto às necessidades do cliente, mais questionador, sabendo negociar com seus interlocutores e olhando para problemas específicos em conjunto e com fluidez. Com as squads trabalhando juntas em um processo colaborativo há mais qualidade, conectividade e agilidade na inovação.
O ágil é uma curva de evolução
É normal que quando uma nova frente é implementada em uma empresa se crie uma expectativa de que funcione muito rápido. Afinal o termo “ágil” nos traz uma conexão direta com ‘rapidez’.
Mas Erika nos explica que atuar em ágil é entregar mais valor, e não necessariamente é atuar de forma mais rápida. A dinâmica é muito diferente do formato de trabalho tradicional, por isso demanda uma transformação de comportamento, de funções, processos e combinar riscos com quem toma decisões.
A cultura organizacional impulsiona a inovação
“Cultura é tudo. O símbolo que mais convida as pessoas para a inovação é a possibilidade de errar”.
Erika fala sobre a importância em ter uma cultura que não é punitiva, que saiba lidar com o erro das pessoas e abrir espaço para que elas testem e cresçam. Ela ressalta também a importância da segurança psicológica, de deixar as pessoas seguras para trazerem ideias e trocarem entre si sem medo:
“Uma organização que está aberta à inovação é uma organização que lida com o erro como aprendizado e não como motivo para punição”.
Erika também fala sobre a “teoria dos elos fracos”, que é a troca quase que informal entre profissionais de áreas muito diferentes. Sabe aquele momento do café onde as pessoas se cruzam e acabam falando de particularidades sobre suas áreas e, mesmo sem terem muito conhecimento acabam dando ideias ou sugestões do que pode ser feito em diferentes circunstâncias? Erika reforça que isso também é reflexo de uma cultura voltada à inovação, onde as pessoas se sentem à vontade para trocas.
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